segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Areia molhada

Está na hora de derrubar o castelo de areia que construí - e construo – com você. Não que eu queira fazer isso - nem mesmo sei se posso. É que a maré tem subido (quase que imperceptível), e eu temo o quão frustrante será quando o mar derrubar o que moldei. Eu lutaria para que a água não o derrubasse; faria até mesmo barreiras pra evitar o que, por natureza, é algo certo. Mas você não faz questão de mantê-lo em pé. A cada dia sinto mais forte a brisa marítima. Ela passa suave, mas desprende alguns grãos de areia. Sutil, mostra o destino do meu castelo. Se eu tivesse coragem suficiente, derrubaria num golpe só. A brisa as vezes parece se enraivecer comigo. É que ela sabe que eu sou medrosa...

sábado, 24 de outubro de 2009

Saudade

E a saudade bateu. Não uma simples saudade, mas a da espécie mais dolorida: daquilo que nunca tive. Parece abstrato demais pra minha mente teimosa entender, mas sim, eu sinto falta de um futuro que desejei com tanta força que se fragmentou num presente frustrado. Parece injustiça, parece piada. Parece que faço questão de não entender o que minha racionalidade diz. Contudo, sei que não posso me agarrar aos fios do meu sentimentalismo; sempre que o faço, caio. Frágeis, não foram feitos pra sustentar o peso todo. Me sinto vazia e impotente, mas ainda concentro minhas forças para, ao menos, não deixar se estraçalhar o único tempo que nos restou: o passado.

sábado, 5 de setembro de 2009

Noite sem estrelas

E lá estávamos nós, novamente. Sempre odiei o seu silêncio, por menor que fosse. Hoje ele era completamente sepulcral; e eu o respondia, sim. Com o mesmo silêncio que me atormentava. Sentados lado a lado. Próximos de corpo, quilômetros distantes de espírito. Era como se eu quisesse falar, mas não soubesse o que. O céu não tinha estrelas. A lua se mostrava, se escondia; e eu não conseguia nem mesmo olhar pros seus olhos. Talvez por medo daquele maldito nó na garganta se desfazer e eu me sentir fragilizada. Tudo já havia sido dito. Eu entendia completamente seu lado e você o meu. Só não queríamos era entender que não havia solução. Dois egoístas. Permanecemos assim por um longo tempo. Encostei minha cabeça no seu ombro, fechei os olhos. Não pude conter a lágrima que há muito me causava angústia. Não deixei que visse meu rosto até que ela secasse; não queria ser injusta e usar de lágrimas para te atingir. Jogo limpo. Eu precisava falar! Mas não havia nada articulado. Extremo egoísmo se mesclava a total compaixão. Sim, eu não sou muito de meios-termos. Sei que você também não, e era justamente por isso que estávamos naquela situação. Eu tremia incontrolável, mas quase imperceptível. Os culpados eram a angústia e o medo. Angústia por não saber o que fazer; medo de te perder. A única saída, a "solução", era cintilante, letras grandes em neon: terminar. Mas lembra? Somos egoístas. E assim, adiamos o fim já premeditado. Acabamos a noite sem uma resposta. Não-resolvidos. Talvez apareça uma nova saída... talvez não.